quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Gêmeos feridos na Kiss fazem 19 anos na UTI


"Eles sempre comemoravam o aniversário juntos", lembra a prima Débora.
Irmãos sofreram intoxicação e foram transferidos para Canoas, onde moram.

Guilherme e Emanuel estão na UTI do Hospital da Ulbra
(Foto: Guilherme Pastl/Arquivo Pessoal)

Os gêmeos Emanuel e Guilherme Pastl completam 19 anos nesta terça-feira (29) lutando pela vida. Feridos no incêndio da boate Kiss, os dois estão sedados na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) do Hospital da Ulbra, em Canoas, na Região Metropolitana de Porto Alegre. Os irmãos anteciparam a comemoração da data para a madrugada de domingo (27) na festa universitária que acabou em 234 mortos.

Segundo a prima Débora Eilers, de 38 anos, a situação é grave. Guilherme teve o pulmão comprometido. A intoxicação de Emanuel foi menos intensa, mas ele tem problema de tireoide, o que pode atrapalhar a recuperação. A partir de quarta (30), 72 horas depois do incêndio, os pais saberão se haverá necessidade de transplante.

"Os médicos deram 1% de chance de vida para eles. Só Deus pode ajudar, mas como para Deus nada é impossível, acredito que eles vão melhorar", disse a prima, que é assistente social. Os pais dos jovens estão muito abalados e preferem não falar com a imprensa.

Os gêmeos se formaram juntos no ensino médio. Separaram-se quando Guilherme se mudou para Santa Maria, para cursar relações internacionais na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Emanuel mora em Canoas com os pais e estuda engenharia de minas na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) em Porto Alegre. No último final de semana, foi para Santa Maria encontrar o irmão e manter uma tradição. "Eles sempre comemoravam o aniversário juntos", lembra a prima.

A festa na boate Kiss seria apenas o início das comemorações. "Eles inclusive postaram no Facebook o convite da festa, 19 Anos em Dose Dupla. Seria uma festa aqui em Canoas, com parentes", lembra Débora.

O movimento é grande na casa da família Pastl em Canoas, na Região Metropolitana de Porto Alegre. Os pais Sérgio Pastl, de 54 anos, e Ana, de 53, recebem o carinho de pessoas próximas. "Há muita gente aqui. Muitos parentes, amigos, colegas de aula e colegas do Sérgio. Eles os abraçam e dizem que estão juntos e orando", conta a assistente social.

Os gêmeos só foram separados no transporte de Santa Maria ao Hospital da Ulbra. O primeiro a chegar foi Emanuel, transferido de ambulância na tarde de domingo. Na manhã de segunda-feira, Guilherme chegou. Enquanto torce pela recuperação dos primos, Débora espera que a investigação para apontar possíveis culpados seja minuciosa.

"O que aconteceu tem de ser muito, muito apurado, porque a boate não poderia ter tantas pessoas. Não havia por onde eles saírem. Tem de haver justiça. Não é justo pessoas saírem para se divertir e não voltarem", lamenta.

Depoimentos apontam para uso de sinalizador
Segundo o chefe da Polícia Civil do Rio Grande do Sul, delegado Ranolfo Vieira Júnior, os depoimentos prestados até o momento apontam para a versão de que o vocalista usou o sinalizador. "Tanto depoimentos colhidos por nós com o público quanto com integrantes da banda comprovam que o vocalista usou o sinalizador", afirmou.

A versão foi corroborada pelo delegado responsável pelo inquérito, Marcos Vianna, titular do 1º Distrito Policial de Santa Maria, onde os integrantes da banda foram ouvidos. Conforme Vianna, jovens que estavam na boate no dia da tragédia deram mesmo relato.

Até o momento, apenas os dois integrantes da banda presos foram ouvidos. Os demais não prestaram depoimento formal. Em entrevista ao G1, o baterista Eliel de Lima, de 31 anos, e o guitarrista Rodrigo Lemos Martins, de 32 anos, disseram que não viram quem acionou o efeito pirotécnico. 

'Fogo frio' pode queimar superfície
O G1 questionou especialistas sobre o uso do "fogo frio "em artefatos pirotécnicos. Segundo, eles, o termo "frio" não significa que o fogo de artifício não possa queimar tanto a pele quanto superfícies inflamáveis.

De acordo com Leonardo Amato Gatti, diretor-técnico da Associação Brasileira de Pirotecnia, este efeito especial para ambiente interno é considerado "frio" porque tem uma perda de calor durante o processo de combustão, o que não isenta o risco de incêndio. "Quando você acende o produto, as primeiras faíscas liberadas [na direção de baixo para cima] são quentes e podem queimar. É um material que dá combustão", explicou.

Gatti complementou que há produtos deste tipo vendidos no mercado paralelo e fabricados com materiais de baixa qualidade, com grande procura devido ao preço menor.

Sobre o uso do equipamento chamado "Sputnik", ele disse que o produto é "terminantemente proibido" de ser utilizado em ambientes fechados já que é "extremamente inflamável e gera muita fumaça".

"Nunca pode usar o Sputnik em lugar fechado ou em qualquer tipo de palco. Na embalagem vem escrita a restrição. Tem que ter, pelo menos, uma distância de 15 metros entre o artefato e as pessoas, carros ou qualquer vegetação", afirmou Gatti.

O professor de química Raphael Salles Silva, do Instituto Federal do Rio de Janeiro, explicou que o verdadeiro "fogo frio" refere-se a uma experiência química utilizada principalmente no ambiente escolar para explicar o fenômeno da absorção de solventes, como a acetona e isopropanol, sem queimar um tecido. "Quando você coloca fogo no tecido, o fogo absorve o solvente orgânico. O calor não ataca o tecido, que permanece intacto", esclareceu Silva.

'É muito prematuro responsabilizá-los'
Tanto o delegado regional de Santa Maria, Marcelo Arigony, quanto a promotora Waleska Agostini, que atua no caso, afirmaram que existe a possibilidade dos donos da boate e dos músicos serem acusados de homicídio culposo.

"É possível, mas ainda é muito prematuro responsabilizá-los. Necessito do inquérito policial concluído para tomar alguma atitude", declarou a promotora, que estimou em pelo menos 30 dias o prazo de conclusão do inquérito policial. "Por necessitar de muita prova pericial, laudos, dificilmente esse caso será solucionado antes desse prazo".


G1

Nenhum comentário:

Postar um comentário